Dirceu Antonio Ruaro*
Falei, na semana passada, que não podemos ter proteção incondicional com nossos filhos. Que devemos, sim, protegê-los e ensiná-los a se protegerem das armadilhas que a vida oferece, porém nós, pais, não podemos incondicionalmente, protegê-los, até porque podemos correr riscos legais.
Considerei, também, que é preciso ensiná-los a fazer escolhas e assumir as consequências que essas escolhas trazem. Disse, ainda, que nem sempre estamos de acordo com as escolhas que eles fazem, mas se são as escolhas deles, nós temos de aceitar e contribuir para que os sonhos deles se realizem.
Por isso, desde pequenos precisamos exercitar com eles as possibilidades de escolhas. Mostrando, na prática que a escolha deve ser um ato livre de vontade deles e mostrar que essa ou aquela escolha resulta nessa ou naquela consequência.
Por exemplo, no supermercado: combinar com o pequeno que ele pode escolher comprar uma coisa. Se ele tiver de escolher, ensinar a escolher e ensinar a assumir a escolha, sem ficar com dó porque o coitadinho não soube escolher e afinal você poderia comprar as duas coisas.
Citei esse exemplo que é bem prático para mostrar que é a partir das pequenas coisas, que vão se acumulando, que as crianças vão construindo seu modo de ser. E, quando se tornam adolescentes e adultos que não respeitam regras e limites podemos encontrar a raiz desses comportamentos nas vivências da infância, nas maneiras como os pais se comportaram com eles.
E, na pré-adolescência, adolescência e juventude de nada adianta encher a cabeça deles com belas frases arranjadas sobre as escolhas e as consequências das escolhas, se lá, na primeira infância, os pais não souberam ensinar a fazer escolhas e assumir as consequências.
Com certeza, todos nós, um dia tivemos de fazer escolhas definitivas, como as escolhas profissionais. Não que não se possa mudar de profissão, não é isso, mas a escolha de uma profissão é uma das tarefas mais difíceis para os jovens, na atualidade.
Diante das dificuldades da vida, ninguém garante nada para ninguém. Por isso, no processo de uma escolha é preciso conhecer profundamente o que se quer, que objetivos se tem, que tipo de realização humana, social, financeira, se deseja, e como se vai fortalecer essa escolha ao longo do tempo de preparação para atingi-la.
Penso que é tarefa muito especial da educação dos filhos e, por isso papel importantíssimo dos pais, tutores ou responsáveis, ensinar escolher o que se quer ser na vida.
Muitos especialistas dizem que saber escolher é uma arte que precisa e pode ser aprendida por cada pessoa. Então, se é assim, pode e precisa ser ensinada pelos pais/tutores/responsáveis, pois mais do que ninguém, são eles que desejam a felicidade e a realização dos filhos por meio de suas escolhas.
Posso estar errado, mas na atualidade, muito mais do que apenas “realizar-se como pessoa” a escolha profissional precisa permitir também, a “sobrevivência” de quem escolhe ser isso ou aquilo.
Lembro aqui do poema “Isto ou Aquilo “ da poetiza Cecilia Meireles, escrito para o público infantil, o poema Ou isto ou aquilo fala sobre a importância das escolhas e se identifica com a condição indecisa da criança.
Numa possível análise “Os versos mostram como as escolhas são obrigatórias, não escolher já é fazer uma escolha, não é possível fugir das situações que se apresentam no nosso dia a dia.
Viver é, portanto, optar por caminhos diferentes, e é essa dificuldade da qual não se pode fugir, que Cecília Meireles mostra aos pequenos leitores, mas não só a eles.
O poema gera identificação com a criança, que começa a ser apresentada aos dilemas da vida à medida que vai crescendo: brincar ou estudar? Correr ou ficar sossegado? Outra vez, fazendo analogias aos dilemas que a vida apresenta aos jovens e adultos…. na vida diária.
Os versos de Cecília Meireles têm uma importante função didático-pedagógica e ensinam aos pequenos – aproveitando também para relembrar os adultos – que devemos aceitar que, ao escolher, vamos sempre perder aquilo que não foi escolhido.
Escolher é, portanto, de uma certa forma, sinônimo de sofrer, e Ou isto ou aquilo nos ajuda a aceitar a incompletude, a processar a falta e a nos conformarmos de que não podemos ter tudo o que queremos”, pense nisso, enquanto lhe desejo boa semana.
*Dirceu Antonio Ruaro
Doutor em Educação pela UNICAMP
Psicopedagogo Clínico-Institucional
Pró-Reitor Acadêmico UNIMATER
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